30 outubro 2013

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Olhos envelhecidos


 Ele a levou para tomar sorvete pela última vez. Continuava igual, apenas o brilho nos teus olhos não era o mesmo, o castanho intenso havia envelhecido. O tempo de repente mudou, começou a chuviscar e as árvores dançavam junto com o vento espalhando pétalas de ipê amarelo por todos os lados, inclusive em seus cabelos negros. O seu jeans preto velho cheio de nostalgia, os óculos quadrados de armação preta, as unhas levemente aparadas e a pele definitivamente rústica ainda trazia bastante lembranças a ela, a eles.
 Quando começou a falar, já não precisava dizer mais nada, os olhos dele, aqueles, cheios de velhice, diziam tudo. Aquilo a incomodava, mas sabia que era necessário. Ouvir. 
 Ela com seus olhos pretos pensou por um momento em dizer alguma coisa, um convencimento talvez, um ato de loucura qualquer, quem sabe sair gritando por aí "Eu te amo, seu idiota", mas, alguma coisa lhe dizia que nada seria suficiente. Ela estava arrasada, sentiu-se como um personagem dessas crônicas românticas que existem por aí. E era. 
 Ele Colocou levemente a mão sobre a dela e olhando para baixo a deixou. Não era doce, nunca foi, ninguém esperava que fosse, ninguém esperava um final encantado. Mas os dois esperavam gratidão. Infelizmente houve só de um lado, um pequeno "obrigado por me fazer sorrir, todos os dias e me afastar da maioria dos meus problemas".
 Aquilo doeu, doeu fundo no coração dela. As lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ele a consolava e a mandava de alguma forma ir procurar outro. Como? Onde fica o "em frente"? Onde fica o caminho para recomeçar? 
 Na verdade a resposta é: Se arraste, mas não desista. E depois de um tempo ela entendeu que aquilo seria melhor, por que olhou pra trás e percebeu que o valor das pessoas não está nos seus olhos envelhecidos ou na cor intensa deles, mas da forma que essas pessoas olham para tudo ao seu redor, inclusive para o amor.

ώCássia Silva

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